terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Receita x Ingresso

Receita: Conforme o Pronunciamento Conceitual Básico, do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), receitas são aumentos nos benefícios econômicos que acarretam em aumentos do Patrimônio Líquido durante o período contábil, sob a forma de:

a) Entrada de recursos, como o resultado das vendas de mercadorias e prestação de serviços ou ganho na alienação de bens, por exemplo; 
b) Aumento de ativos, como o rendimento de aplicações financeiras, por exemplo;
c) Diminuição de passivos, como ganhos não previstos em ações judiciais de contingências reconhecidas contabilmente, por exemplo.

Ainda, pelo CPC, as receitas não estão relacionadas à contribuição dos detentores dos instrumentos patrimoniais.

Existem eventos que incrementam o Patrimônio Líquido, mas que não são classificados como “receita” como por exemplo o aporte de Capital Social pelos Acionistas ou Investidores. A aplicação deste recurso em um segundo momento poderá acarretar em receitas incrementais provenientes da atividade operacional ou financeira da empresa. Exemplo: em uma aplicação financeira de R$100,00 que, ao final de um dado período, resulta em uma remuneração (juros) de R$9,00, identificamos a receita (neste caso, financeira) de R$9,00 referente à remuneração do capital investido.

As receitas podem ser classificadas como:

Operacionais: são as receitas decorrentes da atividade fim da empresa, como exemplo a receita da venda de um produto ou da prestação de um serviço.

Financeiras e/ou Não Operacionais: são ganhos que não possuem ligação direta com a atividade fim da empresa, por exemplo:

a) Resultados positivos da venda de ativos não circulantes (exemplo: venda de bens móveis ou imóveis);
b) Ganhos na reavaliação de títulos e valores mobiliários negociáveis (exemplo: valorização de ações em carteira);
c)  Ganhos que resultam de aumentos no valor contábil de ativos de longo prazo (exemplo: resultado positivo de equivalência patrimonial).

Ingresso de Caixa: É a realização financeira (recebimento) do evento econômico (receita). O tempo decorrido entre o registro das receitas e o efetivo ingresso de caixa é chamado de prazo médio de recebimento.

Idealmente, busca-se o reflexo integral das receitas no caixa, ou seja, que 100% do faturamento seja recebido/ingressado no caixa da empresa. Há duas variáveis que influenciam o binômio receita x ingresso:

a) Prazo médio de recebimento das vendas concedido pela empresa: venda efetuada em Jan/xx e boleto para pagamento em Fev/xx (concessão de prazo de 30 dias para pagamento);
b) Inadimplência: reflete a qualidade da carteira de clientes da empresa pelo volume de não-recebimentos das vendas.

As empresas gerenciam seus prazos de recebimento (item “a” acima); ao passo que tem muito pouca gestão sobre a capacidade de pagamento de seus credores (item “b” acima). Não obstante, a revisão das Políticas de Crédito concatenada com esforços de Cobrança pode assegurar uma melhor saúde financeira para a empresa.


segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Eventos Econômicos x Financeiros


Um evento Econômico está relacionado ao registro de um fato, na data de sua ocorrência (competência). Exemplo:
            a) contabilização da venda de um produto ou da prestação de um serviço em dd/mm/aa;
            b) registro do custo incorrido na elaboração/fabricação de um produto em dd/mm/aa;
            c) registro da despesa com aluguel do prédio administrativo no mês 01/aa;
            d) apropriação dos juros incorridos sobre o empréstimo no mês 01/aa.

Importante observar que os eventos econômicos são registrados/contabilizados independente do movimento de caixa: recebimento (ingresso) ou pagamento (desembolso).




Eventos Financeiros se referem ao efetivo movimento de caixa. Exemplo:
            a) recebimento/ingresso da venda de um produto ou da prestação de um serviço 45 dias após a emissão da nota fiscal;
            b) pagamento do fornecedor de matéria-prima referente à compra efetuada 60 dias atrás;
            c) pagamento, no mês 02/aa, do aluguel do prédio administrativo no mês 01/aa;
            d) pagamento, no mês 02/aa, dos juros incorridos sobre o empréstimo no mês 01/aa.
  
Em um modelo teórico, quando uma empresa vende/presta um serviço e recebe à vista do seu cliente ou quando adquire um insumo/serviço e paga o fornecedor à vista, temos a realização de um evento econômico e financeiro simultaneamente.



A distinção dos eventos econômicos e financeiros é muito importante na análise das Demonstrações Econômico-Financeiras de uma empresa (DRE – Demonstração do Resultado do Exercício, BP – Balanço Patrimonial e DFC – Demonstração do Fluxo de Caixa, dentre outras), pois trazem informações relevantes sobre os prazos de recebimento de duplicatas (receita x ingresso) e prazos de pagamento de fornecedores (despesa/custo/investimento x desembolso/pagamento) praticados.


quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

As Demonstrações Econômico-Financeiras



As DFs - Demonstrações Financeiras - fornecem informações relevantes sobre a situação econômica e financeira de uma empresa em um dado momento, como sua lucratividade, rentabilidade, situação de liquidez, nível de endividamento, dentre outras. A análise das DFs possibilita igualmente avaliar a evolução histórica da empresa, bem como fornecer subsídios para projeções futuras.
O BP (Balanço Patrimonial), o DRE (Demonstração do Resultado do Exercício) e o DFC (Demonstrativo de Fluxo de Caixa) são as DFs mais comumente analisadas pelos profissionais das áreas financeiras pela sua relevância e nível de informação.

No Balanço Patrimonial estão registrados/contabilizados os Ativos (usos ou aplicações de recursos) e os Passivos (fontes ou origens de recursos) que compõe a empresa.

O princípio fundamental da Contabilidade é de que toda aplicação de recurso pressupõe uma origem e vice-versa, de modo que os ATIVOS = PASSIVOS. Esta é a equação fundamental da Contabilidade.

O Ativo registra onde estão aplicados os recursos da empresa (caixa, aplicações financeiras, estoque, equipamentos, p. ex.) e o nível de liquidez dos mesmos (a rapidez com que podem ser transformados em dinheiro). Os itens do Ativo estão classificados conforme a sua liquidez: da maior (mais rapidamente conversível em dinheiro, como estoques, p.ex.) para a menor (maior tempo para converter em dinheiro, como prédios, p.ex). O Ativo é subdividido em Circulante (maior liquidez; curto prazo) e Não Circulante (menor liquidez; longo prazo).

No Passivo estão registradas as fontes que financiam as atividades da empresa, sendo estas subdivididas em recursos de terceiros (dívidas contraídas com bancos, contas a pagar junto a fornecedores, p. ex.) e recursos próprios (capital social).

Os itens do Passivo são arrolados conforme a sua exigibilidade (o prazo e a ordem em que devem ser pagos ou liquidados): da maior (obrigações que devem ser pagas/liquidadas prioritariamente) para a menor (obrigações que serão liquidadas posteriormente).

O Passivo é subdividido em dois grandes grupos: Exigível (de curto ou longo prazo) e Patrimônio Líquido. No Patrimônio Líquido (PL) está registrado o Capital Social da empresa, que é o valor investido pelos seus acionistas. Observe que o PL está classificado como item de menor exigibilidade; portanto os Acionistas ou Proprietários serão os últimos a receber em caso de default da empresa (falência). O retorno (remuneração/dividendo), portanto, exigido pelos Acionistas ou Proprietários deverá compensar este risco!!
 
 O custo do capital próprio é maior que o de capital de terceiros porque se assume que os Acionistas não se contentariam em remunerar os seus capitais a uma taxa menor que os terceiros estão recebendo da empresa, já que estão assumindo mais riscos.

Assim, diz-se que o capital de terceiros é menos oneroso (mais “barato”) que o capital próprio (mais “caro”). Da mesma forma, as fontes de recursos de curto prazo tendem a ser menos onerosas do que as de longo prazo; porque quanto mais o tempo passa, aumenta a incerteza (risco) do credor em receber os valores emprestados.

No Patrimônio Líquido também está registrado o Lucro (ou prejuízo) das atividades da empresa e a sua destinação (dividendos e reservas, p.ex.).
 
O PL é chamado de Patrimônio Líquido porque contempla o capital inicialmente investido, acrescido do Lucro (ou prejuízo) das atividades geradas pela empresa e deduzido das remunerações (dividendos) já efetuadas aos Acionistas.

O Lucro (ou prejuízo) é detalhado na DRE - Demonstração do Resultado do Exercício.

A Demonstração do Resultado do Exercício evidencia o resultado (positivo ou negativo) das atividades operacionais, financeiras e não operacionais da empresa durante um determinado período de tempo. É subdividida em termos de receitas obtidas, custos incorridos na fabricação dos produtos, despesas incorridas pelas diversas áreas, despesas e receitas financeiras decorrentes da gestão do caixa, dentre outros itens.

A organização da DRE evidencia inicialmente qual é o resultado econômico que a empresa obtém pela sua atividade operacional para que os Acionistas e investidores possam avaliar a performance do negócio. 


Para apurar o resultado ou lucro operacional é necessário apurar as receitas operacionais líquidas (faturamento dos produtos vendidos ou serviços prestados da empresa em um dado período, deduzido dos respectivos impostos sobre vendas/serviços); os custos incorridos ou necessários para a atividade-fim da empresa (custo de mão-de-obra, p.ex.) e as despesas aferidas para a operação da empresa.


Os custos estão associados à geração de receita, pois para cada unidade de produto vendido ou serviço prestado há um custo associado. Por outro lado, as despesas são incorridas independentemente da efetivação das vendas / prestação do serviço (ex: aluguel do prédio da sede administrativa da empresa, que deverá ser pago mesmo que não haja faturamento).

O Lucro Operacional está retratado em grande parte das DREs sob a nomenclatura de EBITDA (Earnings Before Interests, Taxes, Depreciation and Amortization), que representa o lucro da empresa antes do pagamento de juros, impostos, depreciação e amortização e é tido como um dos mais utilizados indicadores de desempenho das organizações, pois reflete o resultado “puro” do negócio da empresa (sem a influência de juros pagos ou recebidos, por exemplo).

Após o resultado operacional, a DRE apresenta a despesa com a depreciação dos ativos que foram adquiridos pela empresa, que corresponde ao desgaste ou obsolescência das máquinas, equipamentos, veículos, etc., no decorrer de sua vida útil. A despesa de depreciação permite que a empresa “economize” recursos que seriam distribuídos aos acionistas para a renovação futura de seus ativos.

Isso acontece porque a depreciação reduz contabilmente o Lucro da empresa e, conseqüentemente, menos impostos sobre o lucro serão recolhidos e menos dividendos serão pagos, “gerando” caixa para futuros investimentos.

As despesas financeiras e receitas financeiras (juros incorridos sobre empréstimos e financiamentos ou sobre aplicações financeiras) também são registradas na DRE como forma de assegurar que os saldos de valores a pagar e a receber no Balanço Patrimonial estejam refletindo a posição atual.

Resultado Não-Operacional refere-se ao lucro ou prejuízo incorrido em alguma operação que não seja a atividade-fim da empresa, como por exemplo: receita da venda de móveis e equipamentos de escritório velhos (sucata) de um frigorífico.

Assim, temos:
Receitas Brutas
(-) Impostos s/Receita
(-) Custos
(-) Despesas
(=) EBITDA ou Lucro Operacional
(-) Depreciação
(+/-) Resultado Financeiro
(+/-) Resultado Não-Operacional
(=) Lucro Antes dos Impostos (ou Lucro Bruto)

O resultado bruto da atividade operacional e financeira da empresa (Lucro Antes dos Impostos) é oferecido à tributação de Imposto de Renda (IR) e Contribuição Social (CSSL), que pode ser ajustado por alguns efeitos contábeis e/ou extra-contábeis. A despesa com IR/CSSL deduz o lucro bruto de modo a obter o Resultado do Exercício ou Lucro (ou prejuízo) Líquido do Exercício.

Assim, temos:
Lucro Antes dos Impostos
(-) Imposto de Renda
(-) Contribuição Social
(=) Lucro Líquido do Exercício

 
O Resultado do Exercício é um indicativo do potencial de retorno aos Acionistas, pois é base para o cálculo dos valores que serão destinados aos Acionistas a título de remuneração pelo capital investido. É “indicativo” porque geralmente as empresas reinvestem parte do lucro na própria operação. É “potencial” porque ter Lucro não significa ter dinheiro em caixa para distribuir este lucro.

A Demonstração do Fluxo de Caixa visa evidenciar qual a saúde financeira de uma organização. A análise do “lucro”, simplesmente, tende a análises equivocadas, pois uma empresa pode gerar lucro e, ao mesmo tempo, estar em grandes dificuldades financeiras. Logo, a capacidade de geração de caixa de uma empresa é de extrema relevância para a saúde financeira e perpetuidade da empresa.

A geração de caixa de uma empresa reflete a capacidade de conversão das receitas em recebimentos/ingressos de caixa e as despesas em saídas/desembolsos/pagamentos de caixa. A geração de caixa está muito relacionada à gestão dos prazos médios de recebimento (giro do contas a receber) e pagamento (giro do contas a pagar).

A concepção de um fluxo de caixa segue a mesma lógica estrutural da DRE, conforme pode ser visualizado abaixo.

 
No fluxo de caixa visualizam-se os recebimentos das vendas/serviços prestados, seguido das deduções incidentes sobre estas e os desembolsos relativos aos insumos necessários para a operação da empresa. Percebe-se, portanto, a estreita relação entre o Lucro Operacional/EBITDA do DRE com a Geração de Caixa Operacional do Fluxo de Caixa. No limite, se os prazos de recebimento e pagamento fossem imediatos e não houvesse qualquer tipo de inadimplência ou desconto concedido, o EBITDA + IR/CS = Geração de Caixa Operacional.

Vale observar que classificamos o pagamento do IR/CS como parte do Caixa Operacional, porque o fato gerador do imposto sobre renda reside na atividade operacional da empresa. 

Em seguida, no fluxo de caixa estão refletidos os desembolsos para investimentos ou CapEx (Capital Expenditures): aquisição de móveis, máquinas, utensílios, veículos, etc. A aquisição destes investimentos (caixa) geralmente é o fato gerador para que a empresa possa se beneficiar do benefício econômico da Depreciação (econômico), conforme pressupostos legais. Observe que a depreciação não tem efeito “caixa”, isto é, não é uma despesa que será “paga”.

Após a dedução dos investimentos, temos um saldo de caixa denominado Caixa Livre (Free Cash Flow), que identifica o excedente (ou falta) de caixa da atividade operacional (atividade-fim) da empresa.

Em seguida, são registradas as movimentações financeiras, que compreendem (i) a tomada de novas dívidas, (ii) a amortização do principal das dívidas já contratadas, (iii) o pagamento dos juros dos empréstimos e (iv) o recebimento das receitas geradas pela atividade financeira, como o rendimento das aplicações financeiras ou descontos recebidos, por exemplo.

Após o registro dos recebimentos e dos pagamentos efetuados, apura-se o saldo de Caixa Livre para os Acionistas. Este saldo indica se há excedente de caixa após a liquidação de todos os compromissos operacionais e financeiros/não-operacionais assumidos e que está, portanto, “livre” para remunerar os Acionistas. Lembre que os demais credores (fornecedores, bancos, p.ex.) têm preferência na liquidação de suas contas!

Ao fluxo de caixa líquido é adicionado o saldo inicial de caixa e as aplicações financeiras de um dado período para compor o total das disponibilidades registradas no Balanço Patrimonial (caixa total) da empresa. Assim:

Disponibilidades = Saldo Final de Caixa + Aplicações Financeiras

Saldo Inicial de Caixa
(+) Recebimentos          Fluxo de Caixa Líquido
(-) Pagamentos
(=) Saldo Final de Caixa

Na análise das Demonstrações Financeiras das empresas, é importante ter cuidado com o período de análise: a DRE (Demonstração do Resultado do Exercício) e o DFC (Demonstração do Fluxo de Caixa) podem trazer informações de períodos distintos: um único mês, o resultado acumulado até certa data ou de um dado período de tempo, por exemplo. Por outro lado, o BP (Balanço Patrimonial) traz sempre informações acumuladas/ano.

É muito importante observar a posição de cada demonstração financeira para uma análise consistente!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Apresentação


Nessa primeira postagem no Finanças em Foco buscamos apresentar o objetivo do blog e a equipe que torna concreta essa idéia.

Basicamente queremos trazer conceitos do mundo das finanças até nossos leitores e discutir a respeito dos temas. Tanto tópicos que são novidade quanto os que já são consenso nas empresas e no meio acadêmico. Sempre que possível, passaremos exemplos práticos do uso de ferramentas financeiras no dia-a-dia.

Nossa equipe é composta por:

Ernani Guerra – Bacharel em Ciências Contábeis (UFRGS) e MBA em Gestão Financeira e Controladoria (FGV);

Luisa Pinto – Bacharel em Administração (UFRGS), Especialização em Gestão de Riscos (APIMEC) e Especialização em Mercado de Derivativos (APIMEC e BM&F BOVESPA);

Patricia Soncini – Bacharel em Administração (UFSM), Pós-Graduada em Finanças (UFRGS), Pós-Graduada em Gestão de Custos Marginais (MACKENZIE), MBA em Engenharia de Produção (UFRGS), Mestre em Engenharia Econômica (UFRGS);

Renan Franz – Bacharel em Administração (UFRGS) e Mestrando em Administração em Contabilidade e Finanças (PPGA – UFRGS);

Rodrigo Piva – Bacharel em Economia (UFRGS) e Cursando MBA de Gestão Estratégica e Econômica de Negócios (FGV).