terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Discussões sobre o EBITDA


O EBITDA (Earnings Before Interests, Taxes, Depreciation and Amortization) ou Lucro Operacional representa o lucro da empresa antes do pagamento de juros, impostos, depreciação e amortização ou, de outra forma, representa o excedente econômico (lucro) gerado na atividade operacional, após serem descontados das receitas os impostos, custos e despesas. 
O EBITDA é um dos mais utilizados indicadores de desempenho das organizações, pois “mede” a capacidade da empresa converter seus custos e despesas em lucro operacional. Mede, portanto, a eficiência operativa e torna possível acompanhar a real performance dos negócios. 

Mais do que lucro econômico, o EBITDA acabou se tornando uma forma de presumir a Geração de Caixa Operacional de um negócio, dado que parte das receitas e despesas que dão origem ao EBITDA transitam pelo caixa (via ingresso e desembolso operacional), conforme os prazos de pagamento e recebimento praticados. Na visão dos Acionistas e Investidores é igualmente importante analisar se a geração de caixa é suficiente para cobrir o seu custo de capital, ou seja, o quanto (em dinheiro) o negócio é capaz de gerar antes de distribuir a remuneração a seus investidores via juros ou dividendos.


Apesar da popularidade do EBITDA como métrica de performance, é importante utilizá-lo com parcimônia ou em conjunto com outros indicadores!



A primeira ressalva ao uso do EBITDA como métrica é que é um item bastante manipulável por parte da empresa, mesmo sem desobedecer qualquer regra legal ou contábil, que a permite apresentar resultados mais atraentes do que são na realidade. Por exemplo, as empresas podem abrir mão de efetuar determinados gastos (consultoria, manutenção, etc) ou realizar investimentos/CapEx ao invés de gastos/OpEx (compra de imóveis x gastos com aluguéis) para “melhorar” seu EBITDA e, assim, aumentar seu lucro operacional em um dado momento. Atente que a adoção corriqueira destas práticas não é sustentável e destrói o valor da empresa. Por estas implicações também se diz que o EBITDA não informa a “qualidade” do lucro operacional.

O EBITDA também ignora as necessidades adicionais de capital de giro, podendo indicar um fluxo de caixa superior ao real saldo de caixa. Em períodos de crise, por exemplo, a inadimplência aumenta e o fluxo de caixa da empresa sofre pelo não recebimento das vendas. Nestes casos, o EBITDA evidencia uma venda que não virará caixa e, portanto, a geração de caixa operacional estimada não é real. Esta segunda ressalva evidencia que o EBITDA superestima o fluxo de caixa operacional e dá uma falsa noção de liquidez dos negócios.

A terceira ressalva do EBITDA reside no fato de não considerar os reinvestimentos requeridos pelo negócio. A necessidade de expansão do parque fabril para atender à demanda não está refletida no EBITDA e tampouco na geração de caixa aferida a partir dele. A linha de Investimentos/CapEx no fluxo de caixa não é computada no EBITDA e, portanto, cria a ilusão de que a geração de caixa estimada é maior do que realmente será.

Como pode ser visto acima, por não considerar as necessidades de capital de giro, investimentos e a capacidade de geração de recursos para fazer frente ao retorno exigido pelos investidores, o EBITDA é uma falsa medida de liquidez.

Por fim, é importante ter em mente que o EBITDA não é a Geração de Caixa Operacional de um negócio e que seu valor reside na utilização conjunta com outros indicadores, que reflitam as necessidades de reinvestimento (CapEx) e de capital de giro (Working Capital). A métrica do Free Cash Flow, a ser discutida oportunamente, se aproxima mais do saldo de caixa “livre” para remunerar os investidores.




terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Ponto de Equilíbrio


Para entender o ponto de equilíbrio, inicialmente precisamos abordar o conceito de margem de contribuição.


Margem de Contribuição (MC) – corresponde ao montante líquido gerado pela venda do produto para cobrir os custos fixos e é dada pela fórmula:

MC = RBV – CV 

Onde:   MC = Margem de Contribuição
             RBV = Receita Bruta de Vendas
             CV = Custos Variáveis

A margem de contribuição indica a eficiência produtiva da empresa.

Quando MC < 0; a receita gerada não cobre nem os custos variáveis.
Quando MC = 0; a receita gerada cobre somente os custos variáveis e não há excedente para a cobertura de custos fixos e demais despesas.
Quando MC > 0; a receita gerada cobre integralmente os custos variáveis e gera algum excedente para a cobertura (parcial ou integral) de custos fixos e demais despesas. 
Quando a MC cobre integralmente os custos variáveis, fixos e demais despesas, dizemos que a empresa atingiu o seu Ponto de Equilíbrio Contábil. 

Ponto de Equilíbrio Contábil (Break-Even Point) - é obtido quando a empresa atinge determinado nível de vendas capaz de gerar uma margem de contribuição que equalize todos os seus custos fixos e despesas.

PEC = MC – (CF + Despesas) = 0        ou        PEC = (RBV – CV) – (CF + Despesas) = 0  

Onde: PEC = Ponto de equilíbrio contábil
            MC = Margem de contribuição
            RBV = Receita Bruta de Vendas
            CV = Custos Variáveis
            CF = Custos Fixos


Graficamente:
 
 
O Ponto de Equilíbrio contábil indica a eficiência operacional da empresa.
Quando PEC < 0; a receita gerada não cobre os custos e despesas (prejuízo).
Quando PEC = 0; a receita gerada cobre os custos e despesas e não gera lucro ou prejuízo.
Quando PEC > 0; a receita gerada cobre integralmente os custos e despesas e gera algum excedente (lucro).

Observe que quando o PEC =0 o resultado é “nulo” (não há prejuízo ou lucro) e, portanto, não a empresa não atinge um resultado mínimo exigido pelos seus investidores. Portanto, a partir de PEC >0, observamos que há esta geração de valor (lucro). Assim, o PEC traduz o custo de oportunidade, ou o retorno mínimo exigido (positivo, ainda que nulo). Nas situações em que PEC < 0 o investidor poderá estar perdendo valor.

Para equacionar essa questão temos que analisar o Ponto de Equilíbrio Econômico (PEE), que pode ser expressa pela equação:

 PEE = PEC + Custo de Oportunidade

O Custo de Oportunidade, segundo o professor Eliseu Martins (2003), “representa o quanto a empresa sacrificou em termos de remuneração por ter aplicado seus recursos numa alternativa ao invés de em outra.”

Assim, quando adicionamos o custo de oportunidade à análise do ponto de equilíbrio, estamos identificando qual é a receita capaz de remunerar a atividade operacional (custos e despesas) e gerar riqueza para seus investidores e acionistas. Assim:
Quando PEE < 0; a receita gerada não cobre os custos e despesas e/ou não gera riqueza.
Quando PEE = 0; a receita gerada cobre os custos e despesas e gera riqueza no mesmo valor do custo de oportunidade exigida pelo acionista/investidor.
Quando PEE > 0; a receita gerada cobre integralmente os custos, despesas e a expectativa de retorno mínimo exigida pelo acionista/investidor.

Em uma terceira abordagem, o conceito de Ponto de Equilíbrio Financeiro (PEF) é decorrente da análise de geração de caixa do negócio, pois considera o “efeito caixa/financeiro” das receitas, custos e despesas contabilizados (econômico), além da consideração de pagamentos e recebimentos que não são contabilizados como custos e despesas.

   PEF =     Ingressos      (-) Custos   (-)  Despesas  (+/-) Ingressos/Desembolsos
                Operacionais         Pagos           Pagas                    Não Operacionais


 Assim, o PEF evidencia qual é o ingresso (receita “recebida”) necessário para a cobertura de todas as obrigações assumidas (custos, despesas, juros, encargos, etc).


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Classificação de Custos

Custos Diretos x Indiretos 

Custos Diretos – são custos que podem ser diretamente apropriados aos produtos/serviços. Pode ser entendido como uma medida de consumo, dado que seu consumo está atrelado a produção de um bem ou prestação de um serviço (exemplo: consumo de matéria-prima, horas trabalhadas na produção, consumo de combustível para funcionamento de uma máquina utilizada na produção). 

Custos Indiretos – são custos que necessitam de algum critério para alocação aos produtos dado que não é possível associá-los diretamente. Esta alocação dá-se por algum fator de rateio ou estimativa, como por exemplo: aluguel da fábrica rateado pelo número de unidades produzidas no período, custos de manutenção pelo nível de atividade de cada produto;
Obs.: alguns custos diretos, devido à complexidade de apurar e a sua irrelevância, são tratados como custos indiretos. Por exemplo: a cola utilizada na montagem de móveis planejados é um custo direto, mas que pela dificuldade de medir a quantidade utilizada por móvel, pode-se utilizar um critério de alocação por m². 

Custos Fixos x Variáveis 

A principal diferenciação entre essas duas classificações de custos está diretamente ligada a relação entre valor total do custo e o volume de atividade em uma unidade de tempo. 

Custos Variáveis – São os custos que variam o seu montante de acordo com o volume de produção. Por exemplo: o papel consumido na produção de um jornal. Isso porque, apesar da quantidade de papel para produção de um exemplar de determinado jornal não variar, o custo com papel é tido como variável, pois o montante total do custo irá oscilar de acordo com a quantidade produzida. Ilustrando: se não for produzido nenhum jornal, o custo do papel é R$0,00 (não houve processamento de matéria-prima); ao passo que a partir do momento que inicia-se a produção, ocorre o consumo e a apuração do custo, que tende a variar conforme a quantidade produzida.

Custos Fixos – são aqueles que existem independentemente da quantidade produzida em determinado período de tempo, como por exemplo, o aluguel do prédio onde está situado o parque gráfico para impressão de jornal.

Abaixo um exemplo para melhor entendimento da diferenciação entre custo fixo e variável.

Preço de Venda
 R$       150
/unidade vendida













Quantidades Produzidas
Quantidades Vendidas




0
Mês 01
20
Mês 01





150
Mês 02
120
Mês 02





180
Mês 03
170
Mês 03





200
Mês 04
220
Mês 04





220
Mês 05
230
Mês 05





230
Mês 06
240
Mês 06





250
Mês 07
270
Mês 07





260
Mês 08
280
Mês 08





260
Mês 09
250
Mês 09





280
Mês 10
270
Mês 10





400
Mês 11
380
Mês 11





500
Mês 12
480
Mês 12














Custos Fixos:

 R$    3.000
/mês referente a aluguel do prédio do parque gráfico



 R$    4.500
/mês referente ao salário da equipe de produção











Custos Variáveis:

 R$          90

/unidade produzida (matéria-prima)




 R$          10
/unidade produzida (bonificação equipe vendas)



3%
Impostos s/vendas













Despesas:

 R$       800
/mês salários do pessoal administrativo e equipe vendas


 R$       200
/mês referente a aluguel do prédio administrativo


 
Assim, temos:

Graficamente:
 
Observe que o custo fixo é constante, independente da quantidade produzida e que o custo variável depende da quantidade produzida.

Unitariamente (custo ÷ quantidade produzida), quanto maior a quantidade produzida, menor tende a ser o custo total unitário (direto e indireto). Pode-se afirmar que o custo direto unitário não sofre alteração com a quantidade produzida, uma vez que é alocado diretamente aos produtos, na mesma pedida. Por outro lado, o custo indireto unitário altera-se com a quantidade produzida, pois quanto maior a quantidade, maior será a parcela de custo que será “diluído”.

Alguns casos específicos requerem uma maior atenção quanto à classificação a ser adotada, entre eles está o custo com depreciação, pois apesar de o montante variar com a utilização de novas alíquotas, é obrigatoriamente classificado como Custo Fixo. Outro exemplo é o custo com aluguel, pois o montante pode variar após reajuste, mas continua existindo independente da quantidade produzida.

Todos os custos podem receber as classificações acima citadas. Os custos variáveis são sempre diretos por natureza, mas como já citado, podem ser tratados como indiretos.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Despesa x Custo x Investimento x Desembolso


A distinção entre Despesa, Custo e Investimento gera muitas discussões no mundo corporativo e acadêmico; assim como a diferença entre o evento econômico destes Gastos com o efetivo desembolso (evento financeiro). Este material visa, justamente, elucidar alguns pontos e esclarecer dúvidas.

Gastos: termo bastante abrangente que engloba os esforços arcados pelas Empresas visando à obtenção, uso, fabricação, transformação, comercialização de bens ou serviços mediante a entrega ou promessa de entrega de parte de seu ativo, normalmente representada por dinheiro. Os gastos podem ser classificados como Custo, Despesa ou Investimento.

Custos: são gastos relativos à aquisição de bens ou serviços utilizados na produção de outros bens ou prestação de serviços. Exemplos: salários do pessoal da produção, matéria-prima utilizada na produção, manutenção das máquinas de produção, energia elétrica consumida no parque fabril, combustíveis utilizados nas máquinas, etc.

Despesas: são gastos consumidos, direta ou indiretamente, na obtenção de receitas, como salários, telefone, propaganda, material de expediente, combustível dos veículos dos diretores e representantes, etc. 

Os custos só existem se houver a produção de um bem ou a prestação de um serviço; já as despesas existem independentemente da produção de um bem ou da prestação de um serviço. Do ponto de vista didático, todos os gastos realizados na fabricação do produto, isto é, "dentro da fábrica" são custos. O “resto” é despesa. 

Os custos e as despesas são contabilizados na DRE (Demonstração do Resultado do Exercício) logo após a Receita Líquida. Os Custos são deduzidos da Receita Líquida para compor o Lucro Bruto ou Margem Bruta. A este resultado, são deduzidas as Despesas Operacionais para se obter o Lucro Operacional ou EBITDA (Earnings Before Interests,Taxes, Depreciation and Amortization). 


Os Investimentos também podem ser considerados como gastos, embora estes sejam “ativados”, ou seja, registrados contabilmente no Balanço Patrimonial, no Ativo (geralmente em Estoque ou Imobilizado). 

Assim, qualquer gasto realizado cujo bem é ativado será um investimento. Exemplo: aquisição de móveis, utensílios, veículos, imóveis, estoque de matéria-prima para elaboração, etc.

É importante esclarecer que no Ativo há uma rubrica com a descrição de “Investimentos”. Nesta rubrica são registrados outros tipos de gastos, não diretamente relacionados à atividade operacional da empresa, como a participação acionária em outras empresas. Por exemplo: uma clínica médica adquire ações da Vale do Rio Doce.

Todo o gasto (seja investimento, custo ou despesa) representa um desembolso financeiro imediato ou futuro, correspondente à contraprestação pela aquisição dos bens.

Desembolso é, portanto, o pagamento do bem adquirido ou do serviço prestado. Pode ocorrer antes, durante ou depois da data do seu recebimento ou prestação – este “prazo” geralmente é definido/norteado pelas Políticas da empresa no que tange ao prazo de pagamento de fornecedores.

Exemplos:

Se comprarmos um bem à vista, o desembolso se concretizará no ato da aquisição;

Se comprarmos um bem a prazo, o desembolso se dará depois da aquisição;

Se adiantarmos o dinheiro para posterior recebimento do bem, o desembolso ocorre antes do recebimento deste bem.